Preparem-se, pois setembro será mais um mês cruel



05/09/2011


Preparem-se, pois setembro será mais um mês cruel

Bem-vindo de volta. Foram boas as suas férias? A Europa e os EUA estão voltando das férias de verão. A economia mundial, porém, não descansou nesse período.

As autoridades econômicas de volta ao trabalho, na semana passada, ligaram seus computadores e foram recebidas por fluxos de más notícias. Os números sobre o mercado de trabalho americano, divulgados na sexta-feira, foram simplesmente horríveis; e os resultados desanimadores de pesquisas com gerentes de compras nos EUA, na Europa e na Ásia - sinalizadores não infalíveis da atividade futura, mas raramente completamente errados sobre o ritmo de crescimento -, sugerem que o ímpeto de crescimento é o mais fraco desde os dias sombrios de 2009.

Sinais de esfriamento nos mercados emergentes são particularmente preocupantes. Sempre houve uma ameaça latente de que potências de renda média, como a China, estão menos descoladas dos países ricos do que poderia sugerir a bifurcada economia mundial nos últimos meses. Até agora, mesmo quando o consumo parecia fraco nos países ricos, em países como a China o crescimento vinha sendo mantido por investimentos alimentados por capital mundial barato e por financiamento doméstico subsidiado. Mas, a menos que as economias em desenvolvimento possam rapidamente passar a adotar um modelo baseado em consumo, o que é improvável, elas devem permanecer vulneráveis a uma queda grave da demanda nos EUA e na Europa.

Infelizmente, discórdia e autoengano nos governos do mundo rico implicam uma rarefeita confiança de que eles conseguirão evitar essa queda na demanda.

Às vésperas do início das férias de verão [no hemisfério norte], as autoridades econômicas europeias e americanas produziram acordos que venderam à opinião pública como marchas determinadas e colaborativas para sair do terreno pantanoso de endividamento. Essas afirmações pareceram improváveis, na ocasião, e os sinais, até agora, sugerem fortemente que elas não conseguiram arrastar suas economias para um terreno mais firme.

Nos EUA, o acordo em torno do aumento do teto da dívida pública federal pelo menos evitou a perspectiva verdadeiramente insana de que um dos países com títulos soberanos mais dignos de crédito no mundo aplicasse voluntariamente um calote.

Mas a perspectiva de que o acordo marcaria uma nova maturidade na política fiscal americana parece fantasiosamente esperançosa. As difíceis decisões sobre a reforma da posição fiscal americana de longo prazo foram transferidas para uma supercomissão, e é extremamente otimista ter muita fé na unanimidade deliberativa desse grupo.

Mais importante - no que diz respeito ao crescimento no curto prazo -, os republicanos continuam obcecados com a peculiar ideia de que cortar gastos do governo numa economia empacada, com enorme folga no mercado de trabalho e juros baixos de longo prazo contribuirá para o crescimento americano.

Eric Cantor, líder da maioria republicana na Câmara dos Deputados, estranhamente alegou ser vital que os gastos emergenciais necessários para remediar os estragos causados pelo furacão Irene, um custo não recorrente equivalente a, possivelmente, 0,2% dos gastos federais totais neste ano, fossem compensados por cortes em outros itens.

Se o caráter absurdo do debate sobre o teto de endividamento do país foi às raias do trágico, as tentativas do presidente Barack Obama de iniciar uma nova campanha para criação de empregos beiram o farsesco. Muito piores do que a bizarra disputa sobre em que data o presidente poderia falar perante o Congresso nesta semana são as restrições políticas que vão circunscrever o contexto do discurso.

Muitos republicanos expressaram ceticismo diante da ideia de Obama de estender o prazo de vigência de um corte nos impostos sobre os salários, uma ideia que, de todo modo, tem duvidoso efeito estimulante. Famílias avessos a riscos provavelmente tenderão a poupar, em vez de gastar, o montante de redução de impostos, e parece improvável que uma pequena mudança no custo efetivo de contratação de trabalhadores extras reanimará um mercado de trabalho, enquanto as empresas estão inseguras quanto ao futuro das vendas e dos lucros.

Os números sobre o mercado de trabalho, divulgados na sexta-feira, evidenciaram que a queda do emprego no setor público cancelou exatamente o aumento de empregos no setor privado. Isso ilustra perfeitamente o problema. Podemos dar ao setor privado americano todo o espaço de mercado de trabalho que desejemos: as empresas não o estão ocupando.

A única coisa capaz de ajudar seria um empurrão de curto prazo nos gastos públicos, mas a ideologia antigoverno descartou tal opção. Nesta semana, a Casa Branca poderá muito bem ficar limitada a criar uma ilusão de ação na criação de empregos, ao reunir num suposto "pacote" alguns modestos ajustes em incentivos à infraestrutura e promessa de aprovar três acordos de comércio bilateral pendentes que, segundo suas próprias estimativas, são de pequena relevância para a criação de empregos.

Enquanto isso, os governos europeus estão mostrando exatamente por que os mercados financeiros reagiram com ceticismo à sua intervenção cirúrgica, em julho, supostamente destinada a cauterizar o sangramento decorrente da crise de dívida soberana na região. A zona do euro prometeu um socorro financeiro à Grécia e, duas semanas depois, o Banco Central Europeu decidiu comprar títulos italianos e espanhóis, em troca de maior aperto fiscal nesses países.

Mas as duas partes desse acordo parecem instáveis. Poucos teriam escolhido o premiê italiano, Silvio Berlusconi, mesmo sem a nuvem de escândalos sexuais que infalivelmente o acompanha, como líder ideal em cuja confiabilidade atrelar a credibilidade das políticas para a zona euro. Na semana passada, seu governo montou um programa de austeridade extremamente inconvincente. Fraquejando, o governo esquivou-se de medidas práticas, mas politicamente dolorosas, como um imposto sobre a riqueza e um aumento no imposto sobre o consumo. Permitiu também que os parceiros de coalizão diluíssem cortes propostos para os gastos. Em vez disso, os planos de Berlusconi apoiam-se fortemente em arrecadação mais eficaz de impostos, um familiar recurso mágico, tradicionalmente tirado da cartola toda vez em que medidas fiscais mais substantivas são descartadas.

A Grécia consegue parecer um caso ainda pior. Na sexta-feira veio a notícia de que as negociações para a última parcela do socorro oficial foram suspensas, em meio ao descumprimento de metas de déficit orçamentário.

Se governos e bancos centrais julgavam que as férias de verão recarregariam as baterias da economia mundial, bem como suas próprias baterias, estavam errados. O crescimento está trôpego, e as autoridades do mundo rico estão divididas e ineficazes. Setembro deverá ser um dos meses mais nervosos de um ano cada vez mais perturbador.
Em Valor Econômico




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