Suzano avalia venda de ativos de papel



19/09/2011


Não muito distante de atingir o limite de alavancagem financeira estabelecido pelo conselho de administração, com vencimentos de mais de R$ 4 bilhões de dívida até 2014 e ciente de que o negócio de papel já não oferece um futuro tão promissor, a Suzano Papel e Celulose avalia a venda de ativos nessa área. Em um lance surpreendente e inesperado pelo mercado, conforme apurou o Valor, a companhia comandada pela família Feffer busca ainda reorganizar as finanças para cumprir a meta de investimentos de quase R$ 10 bilhões na área de celulose e energia renovável até 2013.

Segundo fontes, o banco JP Morgan foi contratado para comandar a operação, que pode ser executada em blocos. Um dos negócios compreenderia ativos de papel de imprimir e escrever. Outro bloco englobaria o segmento de papel-cartão. Os demais tipos do produto seriam reunidos em um terceiro pacote. A Suzano tem ainda duas distribuidoras de papel, a SPP-KSR e a Stenfar, na Argentina.

O desinvestimento na área de papel está alinhado à percepção, já expressa por analistas e produtores mundiais e na própria estratégia de longo prazo da empresa, de que a vocação do Brasil está na produção de matéria-prima altamente competitiva, com elevada qualidade e baixo custo de produção. Na Suzano, nos 12 meses encerrados em março, o negócio de papel representou 55% da receita, ante 45% da celulose.

Na divisão por segmentos, a área de papéis de imprimir e escrever respondeu por 42% das receitas e papel-cartão, 13%. Contudo, até 2016, enquanto a produção de papéis se manteria estável na companhia, a de celulose quase triplicaria comparado a 2010, para 4,92 milhões de toneladas.

Grupos papeleiros internacionais são apontados como potenciais compradores, com destaque para a International Paper (IP). No país, a companhia americana, maior produtora mundial de papéis de imprimir e escrever, está presente apenas nesse mercado, mas já indicou interesse em entrar no segmento de embalagens - o que poderia se confirmar com a compra dos ativos de papel-cartão da Suzano. Grupos asiáticos que têm interesse em operar localmente também são vistos como possíveis interessados. Internamente, apenas a Klabin, maior produtora nacional de papéis para embalagens, é apontada como eventual candidata e somente no caso de papel-cartão.

A eventual venda de ativos de papel, produto que é contemplado no plano estratégico da Suzano até 2024, ano em que o grupo completa seu centenário, é atribuída ainda às cifras bilionárias com as quais a empresa terá de lidar nos próximos anos. Em apenas duas novas fábricas de celulose - no plano 2024, a companhia prevê uma terceira unidade -, são quase US$ 5 bilhões em investimentos, mais US$ 800 milhões em aportes na Suzano Energia Renovável, de pellets de madeira para energia, que está em fase pré-operacional.

Até 2013, a Suzano prevê desembolsos de R$ 9,7 bilhões, sem considerar a totalidade dos aportes necessários à operação na fábrica de celulose do Piauí, cuja decisão de compra dos equipamentos foi postergada para o início de 2014. Esse montante inclui os recursos necessários para a partida da unidade de celulose no Maranhão, em novembro de 2013, e R$ 1,5 bilhão para aquisição de 50% do Conpacel (consórcio produtor de papel de imprimir e escrever que pertencia também à Fibria) e da KSR, da Fibria.

Ao mesmo tempo e ainda sem poder contar com a geração de caixa adicional da unidade maranhense, a companhia terá de amortizar R$ 3,34 bilhões em dívida: R$ 982 milhões vincendos neste ano, R$ 1,255 bilhão em 2012 e R$ 1,106 bilhão em 2013. No ano seguinte, os compromissos financeiros chegam a R$ 1,068 bilhão, ultrapassando a marca de R$ 4 bilhões em amortizações até 2014.

Procurada, a Suzano informou, via assessoria de imprensa, que "está tomando diversas providências relativas à estrutura de capital para implementar os projetos futuros do Plano Suzano 2024". Destacou que tem em caixa mais de R$ 3 bilhões e que o financiamento da unidade do Maranhão já está equacionado. A operação de venda foi classificada como "especulação pura". A companhia admitiu que tem "contratos com alguns bancos para analisar alternativas de negócios", porém não relativos à alienação do negócio de papel.

Os números da companhia devem levar em conta ainda o teto para o nível de alavancagem, medido pela relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, sigla em inglês), fixado em 3,5 vezes. Nos três primeiros meses do ano, esse indicador estava em 3,3 vezes. Caiu a 3 vezes no segundo trimestre, mas há dúvidas entre analistas de que a companhia, no pico dos investimentos, consiga se manter abaixo do seu limite.

A direção da Suzano garantiu que tomaria as medidas necessárias para respeitar esse teto a partir de 2012, e listou como alternativas a intenção de vender terras não utilizadas e da fatia de 17% na Usina Hidrelétrica Amador Aguiar (antiga Capim Branco), a busca de parceiros estratégicos, uma eventual emissão de ações, entre outras medidas. Não houve menção, contudo, à possibilidade de venda de ativos de papel.

A mensagem da direção não foi suficiente para convencer os investidores e as ações da Suzano seguem penalizadas na BM&FBovespa. No ano, até sexta-feira, as preferenciais classe A da empresa acumulavam queda de 30,8%, para R$ 10,20, abaixo do valor patrimonial. Nesse intervalo, o Ibovespa mostrava queda de 17,45%.

Segundo fonte do mercado de capitais, os acionistas minoritários da Suzano estão descontentes com a empresa porque resultados prometidos por ela não foram cumpridos. Além disso, a elevada exposição da companhia ao negócio de papel, que tem oferecido margens cada vez mais apertadas e mostra tímido potencial de crescimento, serviria como importante trava às apostas nas ações da Suzano.

Fonte: Valor Econômico




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