Dilma, de olho nos derivativos



19/09/2011


"Um volume alto de reservas e de investimen- tos diretos não é garantia absoluta contra a especulação". Assinado, Dilma Rousseff. A frase é de um artigo assinado por Dilma, quando era técnica da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul e analisava as respostas do governo à crise asiática, com base em dados disponíveis em setembro de 1997. Antiga, de 14 anos, portanto. O artigo (disponível na página da fundação, no endereço www.is.gd/bCMNnB), foi ressuscitado há poucos dias e saudado em reunião da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

Para os executivos da Fiesp, o texto da economista, de pouco mais de 30 páginas, não só revela que Dilma não é neófita nos dilemas das políticas monetária e cambial, como demonstra que as recentes medidas do Ministério da Fazenda e do Banco Central contra a especulação por meio de derivativos traduzem antiga convicção da presidente.

É um sinal importante num momento em que representantes do sistema financeiro peregrinam por gabinetes, em São Paulo e em Brasília, na tentativa de exorcizar as recentes medidas de controle sobre os mercados futuros.

Fiesp "ressuscita" artigo da presidente sobre a crise de 1997

As rédeas sobre os derivativos vieram sob a forma de imposto sobre operações no mercado futuro e poderes ao Conselho Monetário Nacional para intervir no mercado acionário à vista, futuros, a termo e de opções, alterando margens de garantia e outras condições de contratos.

Defensores das medidas falam em "situação anômala", na qual as variações do mercado só vinham se dando numa direção, a da valorização do real. Há até acusações de que bancos centrais estrangeiros, especialmente o chinês, agem por meio de fundos de hedge globais para garantir o real valorizado.

"O desfecho dos ataques especulativos no Sudeste Asiático mostra que nenhum dos instrumentos tradicionais, da elevação dos juros à intervenção dos bancos centrais, utilizando suas reservas e outros controles cambiais menos ortodoxos, é uma garantia integral contra um ataque especulativo", dizia Dilma, há quase 15 anos, ao tirar lições, para o Brasil, da crise que fez miar os chamados tigres asiáticos.

Dilma previa que se acentuariam as pressões de organismos internacionais pela maior liberalização do setor financeiro brasileiro, o que, na opinião dela, daria às autoridades monetárias no Brasil "caráter mais coadjuvante" no controle das políticas monetária e de câmbio.

A economista também previa que ruiria - como de fato ruiu, um ano depois - a barreira que as autoridades de então acreditavam ter levantado contra ataques especulativos ao real, principalmente graças a recursos previstos com as privatizações, o alto nível das reservas internacionais (US$ 62 bilhões, na época), forte influxo de investimentos diretos e à política de aperto na oferta de moeda e crédito.

Não há paralelo entre a situação dos anos 90, com sua sucessão de crises financeiras e bolhas na Ásia e na América Latina, e a atual contração dos mercados desenvolvidos, após o estouro da bolha provocada pelos altos déficits fiscais e pela liberalização alucinada dos mercados financeiros nos países ricos.

A situação do Brasil também é ainda muito menos vulnerável do que parecia no fim dos anos 90. Mas as conclusões de Dilma sobre a fragilidade dos instrumentos tradicionais para garantir ao país o controle sobre sua própria moeda parecem continuar valendo.

Dilma, no artigo desencavado na Fiesp, também mostrava seu horror com a reação da política econômica de então, assentada na elevação gradual da taxa real de juros - motivada, na avaliação da economista, pela necessidade de desvalorizar o real de forma controlada, de maneira a evitar pressões inflacionárias e, ao mesmo tempo, garantir remuneração para os investidores externos.

O efeito das taxas elevadas seria não só ampliar a dívida interna e o desequilíbrio nas contas públicas, como também potencializar o "visível desaquecimento" da economia, criticava Dilma - hoje empenhada em reduzir a dívida, equilibrar as contas e evitar forte desaceleração do crescimento.

Os argumentos do artigo mostram mais uma diferença entre Dilma e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva: enquanto aquele baseava as decisões em sua extraordinária intuição e na consulta a interlocutores antagônicos, sem ligar muito para os detalhes da arenga em economês dos especialistas, a atual presidente é uma usuária antiga das análises de conjuntura. E tem convicções enraizadas em experiência própria, como economista, quando se trata de estratégia contra especulação cambial.

As pressões contra o maior controle no mercado de derivativos levaram, até agora, apenas ao adiamento, por motivos técnicos, da aplicação das medidas. Se depender das crenças da presidente da República, dificilmente haverá mais que isso.

Fonte: Valor Econômico




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